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quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Ave, Cristo

Ave, Cristo

O patriciado romano do século III estava imerso no materialismo absoluto. Embora adornada pela máscara de espiritualidade que o culto superficial de veneração aos antepassados e às múltiplas divindades lhe emprestavam, a sociedade da época deixava-se dominar pela cegueira moral e pela bestialidade nos costumes.


Na política e na vida pública, a corrupção, a bajulação e a arbitrariedade eram o retrato vivo de uma moralidade doentia.

No ambiente privado, a escravidão e a subserviência de uma multidão de miseráveis sustentava a ostentação e a futilidade dos mais abastados.

Mas era nos circos e nos anfiteatros que a aristocracia deleitava-se, entregando-se à embriaguez dos sentidos que a sensualidade, as orgias e carnificina lhe propiciava.

Esse deserto espiritual, essa ausência de dignidade nos costumes, esse predomínio da animalidade sobre a humanidade, no entanto, formavam terreno fecundo para que florescessem, nas almas desamparadas dos servos, dos escravos, dos plebeus e até mesmo de membros desiludidos do patriciado, as mensagens de ventura e de esperança do Evangelho, as notícias de amor e tolerância do cristianismo ilegal e clandestino.

Em meio a esse cenário tecido entre rosas e espinhos vamos encontrar Quinto Varro, patrício convertido a Jesus, em missão de resgate espiritual do filho amado que, por circunstâncias do destino, transformou-se em opositor ferrenho do cristianismo.

Emmanuel, como de hábito, organiza a história sob a tecitura poética de sua batuta iluminada. Flores de renunciação, amor e bondade desabrocham por toda parte enquanto a mão perversa da justiça temporal, louca e cruel, arranca de seus ramos esses botões perfumados e inocentes, heróis do cristianismo primitivo, e martiriza-os impiedosamente até a morte.

Mas acima da justiça do César - inclemente investidura temporal da carne sobre a carne - paira a justiça maior, a justiça benevolente, permanente e atemporal de amor infinito, de misericórdia e  brandura... E essa é a justiça que recolhe os botões humanos, como pétalas rubras de sangue espatifadas pelas feras nas arenas da degradação e do desespero, alçando-os, como anjos de heroísmo e renúncia, a cumes de felicidade inimagináveis na imensidão de glória além da morte.

E, enquanto a turba ensandecida, vibrando com o espetáculo abominável, morta para as realidades espirituais, saúda o poder material, dizendo: - "Ave, César", aquelas flores recolhidas no além túmulo, ingressam, mais vivas do que nunca, na eternidade da ventura e do amor, aclamando do fundo de suas almas: - "Ave, Cristo".

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Edição utilizada neste blogue:

Ave, Cristo
Federação Espírita Brasileira
Emmanuel/Francisco Cândido Xavier
10a edição. 1987.

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