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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O Evangelho à Luz do Cosmo - Preâmbulo - PARTE III*


Em verdade, a atual civilização terrena já atingiu alto grau na sua capacidade criadora no manuseio das formas materiais e de modelos institucionais sócio-culturais, mas, ainda, permanece tão espiritualmente imatura, quanto o homem das cavernas! Os homens atuais mentalmente se assemelham a macacos soltos num palácio de cristal, de cuja beleza não se apercebem e cujo objetivo ignoram, e se desajustaram da mata virgem e primitiva. Assim, devem ser devolvidos com urgência ao ambiente amigo e afim da antiga vida selvática e de plena liberdade dos instintos inferiores! Impossibilitados de se adaptarem às responsabilidades morais e aos objetivos de uma vida espiritual superior, a própria lei evolutiva os depõe novamente no berço da civilização! Os homens ainda são criaturas tribais e com hábitos primários, que requerem o seu mais breve retorno às cavernas paleolíticas, como filhos pródigos que regressam ao convívio da parentela hirsuta.

É visível na humanidade atual o sintomático movimento de retorno mental, em que dois terços de terrícolas retomam velhos hábitos, gostos e preferências infantis e anacrônicas, confundindo instintividade com novidades! Pressentindo a impossibilidade de equilíbrio e harmonia no seio da futura humanidade selecionada à direita do Cristo, então só resta, a esses retardatários do progresso espiritual no trato da matéria, o retorno saudosista à idade da pedra, a cujo modo de vida estão intimamente ligados e familiarizados. A sintonia mais flagrante desse primarismo, em que certa porcentagem da humanidade terrícola parece ter atingido um limite de suas possibilidades evolutivas, verifica-se, pouco a pouco, em quase todas as atividades atuais, inclusive nas fórmulas de exteriorizações mentais, embora disfarçadas com recursos e roupagens modernas! Acentua-se um mau gosto pelo berrante e grotesco, o culto incondicional à linguagem escatológica, e já se admite como novidade o "palavrão", que antes era um direito de expressão apenas aos delinquentes ou sem qualquer educação! A poesia, literatura, cinematografia e o teatro são glorificados também com motivos fesceninos do sexo requintado; as pinturas rasantes, caricatas, primárias e entulhos de tintas berrantes extasiam os "snobs", malgrado elas traírem em sua base as garatujas infantis das grutas pré-históricas; a escultura moderna, apesar de sofismada mensagem simbolista esotérica ou pesquisa inusitada, lembra o mau aproveitamento de um leilão de saldos de matéria prima! A Música preferida é dissonante e histérica, sem melodia e inspiração, cujo fundo sonoro trai o ritmo selvagem, a gritaria dos requebros musculares dos velhos caipós e xavantes! Admite-se como autenticidade e estesia as práticas sexuais livres, enfraquecendo costumes e inferiorizando níveis sociais, o que é pura libidinosidade, uma vez que ninguém prega a exposição em público das necessidades fisiológicas, o que também não deixaria de ser um culto pelo autêntico! Astros da TV e da cinematografia fazem confissões extemporâneas e escandalosas, demonstrando suas preferências pervertidas e condenáveis, que terminam consagradas pela imprensa e pelo povo! É a própria figura do anticristo modelada pela turba subvertida e licenciosa, que ao expor em público suas mazelas pecaminosas, lança um desafio e desforra-se da mensagem de pureza e moral do Evangelho pregado por Jesus.

A índole primária do homem, que se requintou no progresso das formas materiais, mas estagnou quanto à sua conscientização espiritual, então o conduz de retorno aos velhos hábitos, preferências e costumes familiares ao seu estágio evolutivo. Assim, na era do evento dos automóveis motorizados e velozes, já se fomenta o gosto e o fascínio pelas competições de "calhambeques", ou então, desportistas excêntricos promovem excursões e passeios em balões estratosféricos, provavelmente saturados dos aviões a jato! A bicicleta, a caleça e o cavalo são "coqueluche" nas prais, "pic-nics" e excursões para o interior, que proporcionam um novo gozo às criaturas fatigadas do motor! Após o surto de brinquedos e engenhocas eletrônicas, as crianças saturadas do automatismo que lhes priva o espírito criativo, voltam-se aos barcos a vela, diligências do faroeste, soldadinhos d chumbo, bonecas de pano e artefatos de madeira. A própria arquitetura, após a febre "funcional", cresce em entusiasmo pelos projetos de edifícios, prédios, residência e até estabelecimentos fabris, no velho estilo colonial e em breve, talvez, medieval! As construções de aspecto maciço, pouca janela e pouca porta, pouco ar e pouca luz, em promiscuidade com os aparelhos de ar condicionado e elétricos, copiando os velhos lampiões sertanejos, não só identificam o gosto primário na mistura como traem o saudosismo das cavernas! Os móveis em estilo cada vez mais decrescente, já identificam as preferências estéticas da época de Dom João VI e Luís XV! Até os ingênuos relógios de cuco e figurinhas móveis que marcam as horas, enfeitam cada vez mais os lares terrícolas, enquanto as antigas caixinhas de música de tanto sucesso nos séculos anteriores são moda novamente saudadas com entusiasmo das coisas novas! Assim, não tarda que a velha cítara, a harpa e o cravo, devam liderar novamente as tertúlias sociais noturnas, em substituição ao piano moderno quase eletronizado. Aliás, acentua-se a antiga novidade das propagandas cinematográficas em telas ao ar livre e nas fachadas dos prédios, e, provavelmente, logo retornará o coreto para a audição da banda musical na praça pública!

Após a leveza das vestes modernas, as criaturas voltam a estimar a roupa de couro, armação metálica, espartilhos e anquinhas! Surgem os sapatos crivados de pregos e taxas ornamentativas, que protegiam os cidadãos da Idade Média nas ruas mal calçadas ou enlameadas, em perfeita afinidade com as cabeleiras e barbas hirsutas, que já configuram algo do cidadão pré-histórico! Daí o gosto primitivo pelos berloques e colares ostensivos de ferro, metal, louça e conchinhas do mar, cinturões de couro e metal gravados, anelões de pedras vulgares mas cintilantes, em franca concorrência com os velhos botocudos menos excêntricos. Sem dúvida, entre os homens também não demora a impor-se a "nova moda" da palheta e do colete, enquanto as mulheres se entusiasmam pelas cabeleiras "Pompadour" e o "maquillage" que já fez sucesso no velho Egito, na França, Roma e Grécia nos tempos bárbaros! E como em "Fim de Tempos" é época dos extremos mais contrastantes, as mulheres se vestem da cabeça aos pés, na moda decretada pelos efeminados costureiros e, simultaneamente, depois se despem ostentando a nudez selvagem nas praias amparadas por minúsculos biquínis!

Na verdade, a marcha retroativa para as cavernas reflete-se até nos conflitos populares e no policiamento do mundo; assim, sob o ataque de estudantes rebeldes armados primariamente de paus, pedras e flechas, as polícias europeias e asiáticas já se defendem protegidas por capacetes e escudos a "la romana"! Certas punições bárbaras do passado são retomada pelos juristas modernos, como acontece na Nigéria, Uganda e outras unidades africanas e asiáticas, as quais renovam suas leis antigas e cruéis; como decepar as mãos dos ladrões, furar os olhos das testemunhas perjuras, castrar os delinquentes sexuais ou punir injustamente os parentes do criminoso! Talvez, por força desse atavismo mental para a era paleolítica, é que médicos, advogados, magistrados, professores, psicólogos e até sacerdotes insistem pela restauração da pena de morte, que foi extinta com o clamor de ser uma punição bárbara e inútil!


Curitiba, 30 de março de 1974

RAMATÍS

* A divisão deste preâmbulo em partes não faz parte da publicação original. Foi feita assim neste blogue no intuito de amenizar sua extensão e separá-lo em trechos de certa unidade temática. Nessa terceira parte, o autor destaca costumes humanidade atual (de 1974, mas, se analisarmos, pouco diferente da que habita o planeta hoje em dia) e os compara com hábitos de épocas anteriores, inclusive com a época das cavernas, destacando a existência de uma identificação da maioria da nossa civilização com um modo de ser primitivo, apesar dos avanços materiais.


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