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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O Evangelho à Luz do Cosmo - Preâmbulo - Parte I*

Meus Irmãos,

Paz e Amor,

O Cidadão terrícola atinge o fim do segundo milênio, atirado à crista das ondas turbilhonantes de uma civilização eletronizada, servida por computadores e "robots", deslumbrada pelo transplante de órgãos e consagrada pela conquista da Lua! Mas, infelizmente, ela já não duvida de que se encontra à beira de implacável destruição provocada pelos excessos de ambição, ateísmo, orgulho e imoralidade! O homem moderno, exclusivamente preocupado com a saúde e eficiência do seu equipo orgânico, procura extrair dele o máximo de gozo e prazeres ilusórios, embora ainda não saiba o que é, de onde vem e par onde vai! Requinta-se no vestir, comer e divertir-se. Ativa epicuristicamente todos os desejos e vive as mais
indisciplinadas emoções, porém sem conseguir libertar-se do pelourinho das sensações. Através de uma vivência desnaturada e sem qualquer controle sensorial, confundindo a exploração insensata do seu corpo carnal com a autenticidade humana, o cidadão terrícola vive submisso ao primarismo de uma existência física sem qualquer identificação com o espírito imortal. Abusando da mediocridade e transitoriedade dos prazeres carnais, ele caminha entontecido para o túmulo, copiando o turista de aparelho fotográfico a tiracolo, que fixa paisagens e edificações desconhecidas, mas não promove qualquer renovação íntima!

Graças à técnica avançada da ciência quase miraculosa, o homem terreno atinge, na atualidade, o máximo na exploração dos sentidos e emoções. Eufórico pelos requintes modernos que lhe proporcionam o excesso de conforto e gozo material atendendo-lhe as exigências mais epicuristas do organismo, envaidece-se pela facilidade e rapidez com que se move entre os pólos antípodas e as latitudes geográficas mais distantes do seu orbe. Certo de que dispõe de um poder incomum, então olvida Deus e ironiza a ternura comunicativa do apelo espiritual do Cristo-Jesus! Enriquece a visão com as paisagens mais exóticas e usufruídas panoramicamente das aeronaves a jato; faz o seu desjejum em New York, almoça em Lisboa e ceia em Paris, mas, infelizmente, continua estático em relação à própria evolução do seu espírito imortal!

Graças aos recursos mágicos da televisão refletida pelos satélites em órbita, o homem apercebe-se instantaneamente dos progressos da arte moderna, das recentes descobertas científicas, dos mais avançados conceitos de filosofia e potencializa o seu cérebro pelas incessantes revelações da cibernética, enquanto ainda não sabe porque existe! Paradoxalmente, requinta o meio externo onde vive, multiplicando conhecimento e inventos da vida transitória, e não se liberta da condição de um fantoche preso aos cordéis do instinto. Malgrado a era dos computadores e da conquista da Lua, além da ebulição de idéias e conceitos incomuns, que consagram gênios, filósofos e cientistas de alto gabarito, o homem civilizado e orgulhoso do século XX ainda não se livrou do arcabouço rígido e brutal do troglodita. Movendo-se no cenário do mundo atual, como cidadão bem condicionado, em sua intimidade ainda grita o ser pré-histórico! Apesar do desesperado esforço para adaptar-se às regras, convenções sociais e aos costumes que esquematizam a vida civilizada, dois terços da humanidade terrícola têm agido de modo tão cruel, cínico, brutal, desregrado, desonesto e imbecil, cujas características remontam a acontecimentos próprios do homem das cavernas!

Embora o homem terrícola alardeie um senso de justiça superior, incentive os mais avançados progressos de filosofia e psicologia em favor da higidez mental, detenha poderes técnicos científicos que ultrapassam as faculdades mágicas das fadas e dos gênios de antanho, ele ainda não passa de um desventurado açougueiro, que talha e esfrangalha a carne humana nas charqueadas da lutas fratricidas, em defesa de retalhos de pano patriótico e de limites de terra que só pertencem a Deus! Em sua insânia mental e primarismo espiritual, o poder público então arrebanha e seleciona os jovens mais sadios e perfeitos de sua pátria; depois os uniformizam e os submetem a treinos específicos de belicosidades, e decepam mãos, braços e pés, mutilam as orelhas, deforma as faces, vazam os olhos, desfigurando a fisionomia que Deus modelou para refletir a sabedoria e a ternura da alma eterna!

Em seguida às porfias sangrentas que massacram e esfrangalham, outros homens vestidos de branco acodem pressuroso, retomam os mutilados dos matadouros fratricidas e, na tarefa piedosa e sacerdotal de "consertos ao vivo", ajustam-lhes braços, pernas e mãos, substituindo os autênticos por membros artificiais e genialmente eletronizados! Nos mais desgraçados e vitimados pela cegueira, colocam-lhes olhos de vidro tão perfeitos, que até parecem "vivos"!... E nos infelizes de carnes esfaceladas, ossos fraturados e nervos lesados, enxertam-lhes tecidos e retalhos extraídos de partes menos visíveis.

Sem dúvida, somente as criaturas ainda estigmatizadas pela era paleolítica serão capazes de praticar essa abominável, insensata e cruel atividade enfermiça de mobilizar a matéria-prima humana mais perfeita e lançá-la depois soba as bombas e metralhas fratricidas, transformado-a num molambo vivo e teratológico para uma vivência circense no seio das metrópoles. Desfigurada propositadamente pelos imperativos de guerra, a "melhor" juventude de um povo transforma-se em farrapos vivos recauchutados pela medicina!... Na era pré-histórica, os monstros antediluvianos eram caçados e destruídos pelos trogloditas espertos e corajosos; hoje, os homens do século XX, malgrado a sua civilização milenária, o advento da cibernética e do controle atômico, são caçados e triturados facilmente sob as patas de aço dos monstros modernos, que também vomitam fogo e chumbo pulverizando infelizes criaturas! A vida humana civilizada ainda é tão insegura e precária, que basta um paranoico fustigado por delírios messiânicos acicatar as paixões belicosas de um povo, para logo aumentar o índice demográfico da população mutilada e teratológica resultante dos matadouros fratricidas. (1)

Curitiba, 30 de março de 1974

RAMATÍS

(1) - Evidentemente, Ramatis refere-se aos tipos megalomaníacos como Hitler, Mussolini e outros, que arrastam o seu povo à infelicidade humana.

* A divisão deste preâmbulo em partes não faz parte da publicação original. Foi feita assim neste blogue no intuito de amenizar sua extensão e separá-lo em trechos de certa unidade temática. Nessa primeira parte, o autor disserta sobre a humanidade atual e o contraste de seu progresso científico e material com a sua estagnação espiritual.


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