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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O Sublime Peregrino - Capítulo XV - O aspecto bíblico do povo eleito para a vinda do messias

PERGUNTA: - Não opomos dúvida quanto à eleição do povo judeu para ser o fermento vivo na missão de Jesus; no entanto, estranhamos a sua formação moral e social quando compulsamos a sua Bíblia tão contraditória. Que dizeis?

RAMATÍS: - A Bíblia é um conjunto de antigos livros, que descreviam a vida e os costumes de vários povos; mais tarde foram agrupados e atribuídos a uma só raça, conhecida por hebréia. Em verdade, é uma revelação religiosa. E os espiritualistas não podem nem devem desprezar a Bíblia, porquanto, apesar de apresentar incongruências e contradições com a moral do vosso século, representa um esforço máximo feito pelos Espíritos, no passado, no sentido de se comprovar a glória, o poder e as intenções de Deus.

É óbvio que não se pode atribuir ao seu texto o caráter vertical de "Palavra de Deus", porquanto as entidades espirituais que naquela época produziram as mensagens bíblicas tiveram que apresentar a revelação como provinda diretamente da "Voz de Jeová"; mas isto não quer dizer que proviesse realmente da mente de Deus. A mentalidade dos povos daquela época e o seu modo de vida exigiram que as revelações não ultrapassassem a sua capacidade de entendimento.

A Bíblia é ainda de grande proveito, sob todos os pontos de vista, porque, escoimada de suas figuras alegóricas e das incongruências naturais da moral daquela época, ser-vos-á possível distinguir, no seu todo, as duas ordens distintas que disciplinam as revelações posteriores. A Bíblia, como repositório que é das comunicações espirituais mescladas com acontecimentos da vida profana dos judeus, torna-se obra muito incoerente quando examinada por outras raças como a vossa. O Velho Testamento, entretanto, desvencilhado do simbolismo exigível para a época em que foi escrito, é ainda a matriz tradicional da revelação divina; em seu fundamento assentam-se todos os esforços posteriores e o êxito no sentido de haver sido compreendida a unidade de Deus, que Moisés consolidou no Monte Sinai.

PERGUNTA: - Sem fugir a certo contrangimento, devemos dizer que há na Bíblia relatos escabrosos, que pecam contra a boa leitura e até contra a ética judaica de ser o povo escolhido para o advento de Jesus! Que nos dizeis?

RAMATÍS: - Devemos compreender que a Moral tem aspectos relativos; e por isso, o que moral no pretérito pode ser imoral no presente. Por esse motivo, não podeis ajuizar a vida de um povo de mais de dois mil anos, aferindo-lhe os valore morais mediante o critério do vosso século. Explicamos que, entre os antropófagos, é de boa moral devorar o guerreiro valente, enquanto que para vós isso é imoral e repugnante; no entanto, a moral moderna, que vos permite devorar o suíno, o boi ou o carneiro, é profundamente imoral para a humanidade superior, dos marcianos, que ficaria escandalizada se lhe oferecessem um rim no espeto ou uma costela de porco assada. Em certos povos do Oriente, a poligamia é de boa moral; entretanto, no vosso país tal prática seria punida com prisão. Algumas tribos asiáticas, menos evoluídas do que vós, tachariam de imoralidade o fato de os ocidentais, após o falecimento de um dos cônjuges, permitirem que o sobrevivente se cas outra vez. A moral cristã que Jesus pregou há dois mil anos, e que hoje considerais de ordem superior, foi o que o levou a se crucificado, porque essa moral era considerada subversiva e contrária à moral da época, que era a de abocanhar tudo e não renunciar a coisa alguma.

A Bíblia historia a vida do povo judeu, com seus costumes e sistemas, que diferem profundamente da ética ocidental moderna; no entanto, nenhuma outra nação do mundo foi tão pura em sua fé para com Deus e tão preocupada com o reinado espiritual da alma. Conforme já lembramos, Abraão, quando decide matar seu próprio filho, apenas porque Deus assim ordenara, representa, alegoricamente, a submissão incondicional que a raça hebréia manifestava ao seu Criador. Embora vos pareçam submissões absurdas e até condenáveis pelo espírito liberal e científico de vossa época, atestam elas a inigualável fidelidade e o sentimento daquela gente para com os poderes superiores. Nenhum povo poderia produzir aqueles pescadores iletrados e camponeses rudes que saíram pelo mundo a pregar uma nova ética contrária à sua própria moral racista e tradicional quando, paradoxalmente, a vossa humanidade, tão evoluída, não conseguiu ainda assimilar tão alto padrão nem o Evangelho que eles pregavam. A raça que apresentou um Isaías, um Jesus de Nazaré, um Pedro, um Paulo de Tarso, um Timóteo ou Maria de Magdala, e a plêiade de mártires trucidados depois nos circos romanos, embora tenha misturado a sua vida profana com a divina e atribuído suas insanidades à própria "palavra de Deus", pode ter pregado estranha moral e até aberrativa, na Bíblia, mas doou a maior contribuição à humanidade, pois foi o berço do Salvador do Mundo!

PERGUNTA: - Então, devemos ignorar propositadamente esses aspectos bíblicos, que para nós são moralmente deformantes?

RAMATÍS: - Não endossamos textos bíblicos que possam deformar a "melhor" moral do vosso tempo, mas lembramos que os aspectos imorais da Bíblia, atribuídos às presunções divinas, ficaram revelados à luz do dia; e assim foi conhecida a vulnerabilidade moral do próprio povo israelita. É óbvio que a sua imprudência infantil em expor, em público, as suas mazelas íntimas e detalhar a violência fanática dos seus líderes religiosos, à conta de vontade imperiosa de Deus, estigmatizou-lhe a tradição; no entanto, a diferença entre a imoralidade judaica, exposta na Bíblia, e a do vosso século, é bem pequena! O judeu a expôs em público, ao passo que a humanidade atual a esconde habilmente. A civilização moderna pratica as mais abjetas e vis torpezas; e, apesar disso, continua dentro dos templos religiosos, embevecida com a vontade de Deus! A corrpução crescente, o luxo nababesco, as uniões conjugais modernas, que disfarçam cálculos astuciosos, o desregramento precoce e as intrigas internacionais para o comércio diabólico da morte soba a pseuda inspiração de Deus, não deveriam merecer, também, a urgente atenção de todos os moralistas modernos?

Jeová protegia as tribos de Israel contra outros povos e se deliciava com o "cheiro de sangue dos holocaustos", mas hoje a religião abençoa canhões, cruzadores e aeronaves de guerra, misturando o Deus de Amor, de Jesus, com carinificinas piores que as descritas na Bíblia. Há dois ou três milênios, era razoável que um povo desprovido de cultura cientifica do vosso século, desconhecendo a eletricidade, o rádio, a televisão, a cinematografia e o intercâmbio aéreo a jato, ainda confundisse o seu instinto belicoso e a sua moral censurável com os preceitos divinos, mas atualmente, é demasiada cegueira, matar-se invocando o nome de Deus para proteger exércitos simpáticos ou para abençoar armas criminosas, destinadas às guerras fratricidas. O povo judeu, quando compôs o seu livro sagrado - O Velho Testamento - como fundamento religioso de sua vida, mesclou-o de fatos condenáveis, mas assim o fez por excesso de Fé e de submissão ao Criador; no entanto, o homem do século XX pratica os mesmos destinos e alardeia emancipação espiritual, com a agravante de já ter conhecido Jesus!

Apesar da promiscuidade de Deus, na Bíblia, com censurávvel moral judaica, tudo foi uma revelação honesta, sincera e até ingênua, sem os artifícios comuns dos povos astutos, modernos, que costumam cultuar duas morais maquiavélicas; uma para uso interno e outra para o público. Se a vossa civilização pretendesse escrever a sua Bíblia, adotando a mesma franqueza e simplicidade com que o povo judeu escreveu a sua, reigiria o mais imoral e bárbaro tratado de história humana, pois relataria mazelas bem piores e ignomínias religiosas praticadas em nome de Deus, de fazerem arrepiar os cabelos!

A Bíblia, repleta de incongruências atribuídas a desígnios de Deus, mas sincera, estóica e ingênua, é o livro que revela as condições espirituais de um povo profético e tenaz em sua fé. Entretanto, maior pânico vox causaria se fosse escrita por qualquer outro povo da época, que não fosse o judeu, cuja moral mais comum se alicerçava na rapinagem, na escravidão e nas orgias sem limites. Eram nações onde os deuses pululavam para todos os gostos, mesmo para as praticas fesceninas; e que sancionavem todas as bestialidades humanas, inclusive a queima de tenras crianças para o sacrifício pagão! (1) A simples descida de Jesus ao povo israelita, para servir de sede à sua missão, indica-o como o mais credenciado espiritualmente para glória do Messias. E a sua própria Bíblia merece, portanto, um pouco de afeição dos outros povos, porque é o rude alicerce do edifício eterno do Cristianismo!

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(1) Nota do Revisor: - Os amonitas, moabitas, fenícios e hititas e os habitantes de Canaã veneravam a divindade Moloc, cujo culto consistia, em geral, no sacrifício do primogênito a ser lançado vivo no braseiro que ardia nas entranhas da estátua de bronze incandescente.

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