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terça-feira, 5 de junho de 2012

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo XVIII - 1 e 2 - Muitos os Chamados, Poucos os Escolhidos

MUITOS OS CHAMADOS, POUCOS OS ESCOLHIDOS

Parábola do festim das bodas

1. Falando ainda por parábolas, disse-lhes Jesus: O reino dos céus se assemelha  a um rei que, querendo festejar o casamento de seu filho, - enviou seus servos a chamar para as bodas os que tinham sido convidados: estes, porém, recusaram ir. - O rei enviou outros servos com ordem de dizer da sua parte aos convidados: Preparei o meu jantar: mandei matar os meus bois e todos os meus cevados: tudo está pronto: vinde às bodas. - Mas eles, sem darem importância a isso, lá se foram, um para a sua casa de campo, outro para o seu negócio. - Os outros pegaram os servos e os mataram, depois de lhes haverem feito muitos ultrajes. - Sabendo disso, o rei se tomou de cólera e, mandando contra eles seus exércitos, exterminou os assassinos e lhes queimou a cidade.

Então, disse a seus servos: O festim das bodas está inteiramente preparado, mas não eram dignos os que para ele foram chamados. Ide, pois às encruzilhadas e chamai para as bodas todos quantos encontrardes. - Os servos então saíram pelas ruas e trouxeram todos os que iam encontrando, bons e maus: a sala das bodas se encheu de pessoas que se puseram à mesa.

O rei entrou em seguida para ver os que estavam à mesa e, percebendo um homem que não vestia a túnica nupcial, - disse-lhe: Meu amigo, como entraste aqui sem a túnica nupcial? O homem guardou silêncio. - Então, disse o rei a sua gente: Atai-lhe as mãos e os pés e lançai-o nas trevas exteriores: aí é que haverá prantos e ranger de dentes: - porque, muitos são chamados, mas poucos são escolhidos. (S. Mateus, 22:1 a 14.)

2. O incrédulo sorri desta parábola, que lhe parece de pueril ingenuidade, por não compreender que se possa opor tantas dificuldades para assistir a uma festa e, ainda menos, que os convidados levem a resistência a ponto de massacrar os enviados do dono da casa. "As parábolas", diz o incrédulo, "São, sem dúvida, imagens, mas, mesmo assim, não devem ultrapassar os limites do verossímil".

Pode-se dizer a mesma coisa de todas as alegorias, das mais engenhosas fábulas, se não forem despojadas de seus envoltórios, a fim de lhes buscar o sentido oculto. Jesus compunha as suas com os hábitos mais vulgares da vida e as adaptava aos costumes e ao caráter do povo a quem falava. A maioria delas tinha por objetivo fazer penetrar nas massas populares a idéia da vida espiritual: o sentido de muitas parábolas parece ininteligível apenas porque os seus intérpretes não se colocam sob esse ponto de vista.

Nesta parábola, Jesus compara o reino dos céus, onde tudo é alegria e felicidade, a uma festa de casamento. Pelos primeiros convidados, Ele se refere aos hebreus, que foram os primeiros chamados por Deus ao conhecimento da sua lei. Os enviados do Senhor são os profetas que os vinham exortar a seguir o caminho da verdadeira felicidade; suas palavras, porém quase não eram ouvidas: suas advertências eram desprezadas: muitos foram mesmo massacrados, como os servos da parábola. Os convidados que recusam o convite, sob o pretexto de terem de ir cuidar de seus campos e de seus negócios, simbolizam as pessoas mundanas que, absorvidas pelas coisas terrenas, se mantêm indiferentes às coisas celestiais.

Era crença comum entre os judeus daquela época que a nação deles devia conquistar a supremacia sobre todas as outras. Com efeito, Deus não havia prometido a Abraão que a sua posteridade cobriria a Terra inteira? Mas, como sempre, tomando a forma pelo fundo eles acreditavam tratar-se de uma dominação efetiva e material.

Antes da vinda do Cristo, com exceção dos hebreus, todos os povos eram idólatras e politeístas. Se alguns homens superiores ao vulgo conceberam a idéia da unidade divina, essa idéia permaneceu no estado de sistema pessoal, não sendo aceita em parte alguma como verdade fundamental, a não ser por alguns iniciados que ocultavam seus conhecimentos sob um véu misterioso, impenetrável às massas. Os hebreus foram os primeiros a praticar publicamente o monoteísmo: é a eles que Deus transmite a sua lei, primeiramente por Moisés, depois por Jesus. Foi daquele pequenino foco que partiu a luz destinada a espalhar-se sobre o mundo inteiro, a triunfar do paganismo e a dar a Abraão uma posteridade espiritual "tão numerosa quanto as estrelas do firmamento." Mas os judeus, repelindo de todo a idolatria, haviam desprezado a lei moral, para se dedicarem à prática mais fácil do culto exterior. O mal  chegara ao cúmulo: a nação, além de escravizada, estava dilacerada pelas facções e dividida pelas seitas: a própria incredulidade havia penetrado o santuário. Foi então que apareceu Jesus, enviado para os chamar à observância da lei e para lhes rasgar os horizontes novos da vida futura. Dos primeiros a serem convidados para o grande banquete da fé universal, eles repeliram a palavra do Messias celeste e o mataram. Perderam assim o fruto que teriam colhido da iniciativa que lhes coubera.

Entretanto, seria injusto acusar-se o povo inteiro por tal estado de coisas. A responsabilidade cabia principalmente aos fariseus e aos saduceus, que sacrificaram a nação pelo orgulho e fanatismo de uns e pela incredulidade dos outros. São eles, pois, sobretudo, que Jesus identifica nos convidados que se recusam a comparecer ao festim das bodas. Depois, acrescenta: "Vendo isso, o Senhor mandou convidar a todos os que fossem encontrados nas encruzilhadas, bons e maus". Queria dizer desse modo que a palavra ia ser pregada a todos os outros povos, pagãos e idólatras e estes, aceitando-a, seriam admitidos ao festim, em lugar dos primeiros convidados.

Mas não basta ser convidado: não basta dizer-se cristão, nem sentar-se à mesa para tomar parte no banquete celestial. É preciso, antes de tudo e sob condição expressa, estar revestido da túnica nupcial, isto é, ter pureza de coração e praticar a lei seguindo o espírito. Ora, a lei está toda inteira nestas palavras: Fora da caridade não há salvação. Contudo, entre os que ouvem a palavra divina, quão poucos são os que a guardam e a aplicam proveitosamente! Quão poucos se tornam dignos de entrar no reino dos céus! É por isso que Jesus falou: Muitos serão chamados: poucos, no entanto, serão escolhidos.



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