Povo acostumado às práticas do comércio e extremamente apegado aos trâmites materiais das riquezas, a sua relação com o Divino estava sempre a serviço de sua prosperidade imediata e tinha aí, muitas vezes, o único objetivo.
Assim, a religião pura e venerável que paira acima das conveniências pessoais estava prejudicada nos sentimentos da maioria que a ela se endereçava, tão somente para conseguir vantagens ou posições.
Eram raros os crentes sinceros e desprendidos, seguidores da essência da velha lei de Moisés, representada no seu conteúdo moral pelo decálogo simples e direto.
No emaranhado de ritos e tradições, os sacerdotes judeus e os representantes das casas mais elevadas do povo tratavam de se defender com a invocação de passagens dos livros mosaicos, de onde retiravam todo o tipo de justificativa para corromper princípios elevados, para distorcer deveres morais e para fazer do formalismo estéril a principal causa da religião, graças à qual, poderiam continuar defendendo seus interesses materiais.
A ritualística sobrepujara a simplicidade do contato com a Divindade.
Pela ação solerte dos intérpretes, o povo ia sendo guiado por criaturas mesquinhas e sem elevação de caráter. Tudo era motivo de ganho e de troca e, para isso, os textos eram consultados, espancados, espremidos, torcidos e retorcidos até que atingissem o estado que desejavam os interessados em obter vantagens ou justificar suas atitudes.
O povo sentia tal estado de coisas, ainda que não ousasse se manifestar contra as autoridades que o dirigiam, eis que temia ser considerado infiel e banido ou morto pelos asseclas dos administradores da fé.
Por isso, a presença de Jesus no meio das pessoas humildes era tão acolhida e admirada, já que o Divino Mestre vinha trazendo uma forma muito diferente de relacionamento com Deus.
Sua palavra doce e sensata parecia orvalho novo na face empoeirada dos desesperados, sempre explorados pelos outros religiosos, que não lhes ofereciam nada como consolo e que, ainda por cima, lhes exigiam valores e bens que não detinham, como condição para realizarem alguma intercessão em seu favor.
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Minha nota:
Apesar de referente à situação da religiosidade judaica em tempos remotos, é interessante reparar como esse trecho denota extrema atualidade no que diz respeito à característica inescrupulosa e mercantil como os administradores da fé conduzem a relação com o Divino nos domínios de praticamente todas as crenças religiosas até a atualidade.
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