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quarta-feira, 5 de março de 2014

A Sabedoria Antiga - Introdução - Parte 04 - Bramanismo

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Se passarmos à quinta raça (a), a raça ariana, encontramos os mesmos ensinamentos incorporados na maior e na mais antiga das religiões arianas - a religião bramânica. A existência Eterna é proclamada no Chandogyopanishad (b) como "o Uno sem Segundo", e dele está escrito:

"Assim quis: multiplicarei para o bem do universo." (VI, II, 1, 3)

O Supremo logos, Brama (c), é tríplice: Ser, Consciência e Beatitude, e é dito:

"D'Este procedem a vida, a inteligência e todos os sentidos, o éter, o ar, o fogo e a terra que suporta tudo." (Mundakopanishad, ii, 3) (d)

Em parte alguma se encontram descrições mais grandiosas do Ser Divino que nas Escrituras hindus. Mas elas se tornam tão familiares que bastam algumas citações.

Eis algumas das jóias preciosas que se encontram em profusão:

"Manifestado, próximo, movendo-se em lugar secreto, morada imensa onde repousa tudo que se move, tudo que respira e fecha os olhos. Sabei que é necessário adorar Aquilo, que é por sua vez ser e não-ser, o melhor, muito além da compreensão de todas as criaturas; luminoso, mais sutil que o sutil, n'Ele estão condensados os mundos com seus habitantes (e). Este é o imperecível Brama. É também Vida, Voz e Pensamento... Em sua nuvem de ouro mais elevada, é o imaculado, o indivisível Brama. Aquilo, a pura Luz das luzes, conhecido daqueles que conhecem o Eu... Este imperecível Brama está diante, Brama também está atrás, Brama está à direita e à esquerda, em cima e embaixo, penetrando todas as coisas, Brama é, na verdade, o Todo." (Mundakopanishad, II, ii, 1, 2, 9, 11)

"Muito além dos universos, Brama, o Supremo, o Grande, oculto em todos os seres, segundo seus corpos respectivos. Hálito de vida, único do Universo inteiro, o Senhor; ao conhecerem-nO, os homens tornam-se imortais. Eu conheço este Espírito poderoso, Sol que brilha além das trevas... Eu O conheço. O Indestrutível, o Antigo, a Alma de todos os seres, onipotente por sua natureza, Ele que é chamado sem nascimento por aqueles que conhecem Brama, Ele, o Eterno." (Shvestashvataropanishad, iii, 7, 8, 21)

"Quando não há trevas, nem dia nem noite, nem ser nem não-ser, Shiva (f), o único, subsiste ainda. Aquele, o Indestrutível. Aquele que deve ser adorado por Savitri (g); d'Aquilo saiu a Sabedoria Antiga. Nem em cima, nem embaixo, nem no centro pode Ele ser compreendido. Nada existe comparável a Ele, cujo nome é Glória infinita. O olhar não pode precisar sua forma, ninguém pode com sua vista contemplá-lO. Aqueles que O conhecem pelo coração e pela inteligência e O trazem no coração tornam-se imortais." (Ibid, iv, 18-20)

A idéia de que o homem, em seu Eu interior, é idêntico ao Eu do Universo - "Eu sou Aquilo", esta idéia impregna tão profundamente todo o pensamento hindu, que o homem é muitas vezes designado como sendo a "cidade divina de Brama" (Mundakopanishad II, ii, 7), a "cidade das nove portas" (Shvestashvataropanishad, iii, 14) (h), e diz-se que Deus reside na cavidade de seu coração (Ibid, II).

"Há apenas uma única maneira de ver o Ser, que não pode ser demonstrado, que é eterno, imaculado, mais elevado que o éter, sem nascimento, a grande Alma eterna... Esta grande Alma, sem começo, é a mesma que reside como éter no coração (1); nele Ela dorme! Ela submete todas as coisas, e as governa; Ela é o Soberano Senhor de todas as coisas; Ela é O que tudo governa, Soberano Senhor de todos os seres, ponte e sustentáculo dos mundos, para que eles não caiam em ruínas." (Brihadaranyakopanishad, IV, iv, 20, 22, tradução do Dr. E. Roer) (i)

Quando Deus é considerado como Aquilo que faz evoluir o Universo, seu tríplice caráter aparece muito nitidamente em Shiva, Vishnu (j) e Brama ou ainda em Vishnu dormindo sob as águas, o Lótus (k) elevando-se de seu seio e no Lótus de Brama (l). O homem é igualmente tríplice e no Mundakopanishad o Eu está descrito como condicionado pelo corpo físico, o corpo sutil (m) e o corpo mental, depois elevando-se fora de todos estes meios (n), no Uno "sem dualidade".

Da Trimurti (Trindade) procedem numerosos deuses (o), encarregados de administrar o Universo, do qual lê-se no Brihadaranyakopanishad:

"Adorai-O, ó deuses, Aquele após o qual o ano executa o ciclo de seus dias. Adorai esta Luz das luzes como a eterna Vida." (IV, iv, 16)

Torna-se supérfluo dizer que o bramanismo ensina a doutrina da reencarnação, pois que sua filosofia sobre a existência repousa na longa peregrinação da alma, através do nascimento e das mortes sucessivas.

Todos os seus livros consideram esta verdade como fundamental. O homem é entregue por seus desejos a esta roda que gira sem interrupção; eis por que deve libertar-se, pelo conhecimento, pela devoção e pelo aniquilamento dos desejos. Quando a alma conhece Deus, sente-se libertada (Shvetash, i, 8) (p). O intelecto purificado pelo conhecimento pode contemplá-lO (Mund, III, i, 8) (q). O conhecimento ligado à devoção encontra a morada de Bramam (Ibid, III, ii, 4). Todo aquele que conhece Brama torna-se também Brama (Ibid, III, ii, 9). Quando cessam os desejos, o mortal torna-se imortal e obtém Brama (Katho, vi, 14) (r).

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Notas da Autora
(1) "O éter no coração" é uma fórmula mística empregada para designar o Uno que se diz residir no coração.

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Minhas Notas:
(a) A quinta raça, ou raça ariana, seria raça humana ancestral que teria dado origem à civilização indiana.

(b) Chandogyopanishad: os Upanixades são textos hindus que remontam dos séculos XVI a VII a.C. e que se constituem de ensinamentos de cunho filosófico, baseados nos Vedas, textos sagrados do hinduísmo. Existem 123 Upanixades. Destes, pouco mais de uma dezena são considerados os Upanixades "básicos" ou "primários". O Chandogyopanishad ou Chandogyo Upanixade é um dos upanixades mais longos e mais antigos. Junto com o Brhadaranyaka Upanixade, constitui a base da filosofia Vedanta, uma das mais antigas filosofias religiosas de todo o mundo.

(c) Brama: ou Brahma ou Bramá. No hinduísmo, é a divindade criadora de todo o Universo.

(d) Mundakopanishad: ou Mundaka Upanixade. é outro dos Upanixades primários. Destina-se a ensinar a supremo conhecimento sobre o universo, ou o "Braman".

(e) notar aqui, a referência que o Mundaka Upanixade faz à existência de diversos mundo habitados. Encontramos, séculos depois, no Evangelho de Jesus, a mesma alusão, conforme é interpretada pelo Espiritismo: "Na casa de meu Pai há muitas moradas."

(f) Shiva: divindade hindu que, junto com Brahma e Vishnu, forma a trindade do hinduísmo (o Trimúrti) que corresponde à parte manifesta da Divindade.

(g) Savitri: divindade, no hinduísmo, que representa o Sol.

(h) Shvestashvataropanishad: ou Shvestashvatara Upanixade. É o 14° upanixade. Concebe Shiva como o Ser Supremo. Ressalta a importância da devoção religiosa.

(i) Brihadaranyakopanishad: ou Brihadaranyaka Upanixade. 10° Upanixade e último dos upanixades primários. Aborda a Verdade através de metáforas e simbolismo.

(j, k, l) Vishnu: divindade hindu que compõe o Trimúrti (ou tríplice natureza divina) junto com Brama e Shiva, conforme assinalado acima. Segundo a tradição religiosa hindu, Brama cria todo o universo manifesto, que perdura por 4 320 000 000 anos (um dia de Brama). Durante esse período, Vishnu encontra-se dormindo, deitado sobre o oceano primordial. Do seu umbigo brota uma flor de lótus. Ao final do dia de Brama, Shiva destrói o universo manifesto, Brama monta sobre a flor de lótus e recria o universo.

(m) o corpo sutil, seria correspondente ao corpo astral, ou corpo das emoções.

(n) como no Espiritismo e em diversas outras correntes filosóficas, o corpo (ou "os corpos") nada mais é do que um meio, veículo, ou instrumento do qual o Espírito (o Eu) se vale para executar o seu trabalho.

(o) o hinduísmo é, em sua maioria, uma religião politeísta. O espiritismo tem ensinado que é comum o homem tomar uma manifestação de um espírito, que provoca fenômenos que ele não consegue compreender, por manifestações de divindades.

(p) Shvetash: forma abreviada de Shvetashvataraopanishad ou Shvetashvatara Upanixade, mencionado anteriormente.

(q) Mund: forma abreviada de Mundakopanishad ou Mundaka Upanixade, mencionado anteriormente.

(r) Katho: ou Katha Upanixade. Um dos upanixades mais conhecidos. É um dos 10 upanixades primários. Destaca-se por ser o texto em que se introduz o vocábulo Yoga, para a prática espiritual, nos seguintes termos:

"Quando os cinco órgãos dos sentidos se aquietam, junto com a mente, e o intelecto cessa sua atividade, isso é chamado o mais alto estado. Esta firme submissão dos sentidos é aquilo que é chamado de Yoga."




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