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quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

A Sabedoria Antiga - Introdução - Parte 01 - A Unidade das Religiões

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A unidade fundamental de todas as religiões


O pensamento reto é condição necessária para uma vida reta. A retidão do juízo é indispensável à retidão da conduta (a).

Quer se nos apresente sob seu antigo nome sânscrito "Brahma Vidya", ou sob a designação moderna tirada do grego, "Teosofia", a Sabedoria Divina nos auxilia na realização deste duplo objeto. Apresenta-se ao mundo simultaneamente como uma filosofia racional, perfeita, e também como religião e moral universais. Um piedoso cristão dizia um dia, falando das Santas Escrituras, que nelas havia passagens que uma criança poderia atravessar facilmente, e abismos onde um gigante seria obrigado a nadar. Outro tanto podemos dizer da Teosofia, porque de seus ensinamentos, uns são simples e práticos, que toda inteligência mediana pode compreender e explica, enquanto outros são tão elevados, tão elevados e profundos, que o espírito mais hábil curva-se exausto quando se obstina em devassar-lhes o sentido.

Esta obra é destinada a apresentar ao leitor uma exposição simples e clara da doutrina teosófica, mostrando que seus princípios gerais e seus ensinamentos formam uma concepção coerente do Universo e fornece os detalhes necessários a fazer sobressair o encadeamento destes princípios e suas ligações mútuas.

Uma obra clássica elementar não pode ter a pretensão de expor toda a ciência que se encontra nas obras mais abstrusas (b); mas de apresentar claramente os dados fundamentais do assunto, em uma vista de conjunto à qual depois muito devemos juntar, e pouco retirar. No quadro que um tal livro forma, o estudante poderá dispor os detalhes de suas investigações ulteriores.

Um golpe de vista de conjunto, lançado sobre as grandes religiões do mundo, mostra que elas têm de comum muitas idéias religiosas, morais e filosóficas. Muitos pretendem que as religiões nasceram do solo da ignorância humana, cultivada pela imaginação, e que foram sendo gradualmente elaboradas a partir das formas grosseiras do animismo e do fetichismo. Suas analogias são devidas aos fenômenos universais da natureza, imperfeitamente observados e explicados de uma maneira caprichosa. Tal escola dá como chave universal o culto do Sol e dos astros; para outros, a chave, não menos universal, é o culto fálico. O medo, o desejo, a ignorância e a admiração levaram o selvagem a personificar os poderes da natureza, depois os sacerdotes exploraram estes terrores e estas esperanças, dominando as imaginações brumosas, e os mitos foram-se transformando em bíblias, e os símbolos em fatos; e como a base era a mesma em toda parte, a semelhança dos resultados era inevitável.

Assim falam os doutores da "mitologia comparada" e, sob a avalancha de provas, os simples são reduzidos ao silêncio, embora não convencidos. Eles não podem negar as analogias, mas não deixam de se interrogar com uma vaga inquietação: "As mais sublimes concepções do homem, suas mais caras esperanças são apenas o produto dos sonhos do selvagem e das dubiedades da ignorância? Todos os grandes condutores da humanidade viveram, trabalharam, sofreram e morreram na ilusão, pela simples personificação de fatos astronômicos, ou pelas obscenidades dissimuladas dos bárbaros?"

A segunda explicação da base comum que unifica a diversidade das religiões humanas postula a existência dum ensinamento original, que uma confraria de grandes instrutores espirituais guarda. Estes Mestres, frutos dos ciclos passados da evolução, tiveram por missão instruir e guiar a humanidade nascente em nosso planeta. Transmitiram a estas raças e nações as verdades fundamentais da religião, sob a forma melhor adaptada às necessidades especiais daqueles que deviam recebê-las. Segundo esta opinião, os fundadores das grandes religiões são membros desta Confraria Única, e foram ajudados, em sua missão, por uma plêiade de outros membros menos elevados que eles, iniciados e discípulos de diversos graus, eminentes por sua intuição espiritual, por seu saber filosófico, ou pela pureza de sua elevação moral. Estes homens dirigiram as nações nascentes, guiando-as no caminho da civilização e dotando-as de leis; monarcas, eles as governaram; filósofos, eles as instruíram; sacerdotes, eles as guiaram. Todos os povos mostram em sua alta antiguidade estes homens poderosos, heróis e semideuses, e a arquitetura, a literatura, e a legislação desses povos conservam de tais homens traços indeléveis.

Parece difícil negar a existência desses homens, diante da tradição universal, dos documentos escritos ainda existentes e dos despojos pré-históricos, em ruínas por toda a parte - sem mencionar outros testemunhos que o ignorante recusaria. Os livros sagrados do Oriente são fiéis testemunhas da grandeza daqueles que os escreveram; porque, em épocas mais próximas e nos tempos modernos, que há de comparável à sublime espiritualidade de sua unção religiosa, ao esplendor intelectual de sua filosofia, à extensão e pureza de sua moral? E quando percebemos o que estes livros encerram sobre Deus, o homem e o Universo, ensinamentos em substância idênticos, sob uma múltipla variedade de aparência exterior, não parece irracional aproximá-las, enfeixando-as em um único corpo de doutrina a que damos o nome de Sabedoria Divina, ou sob a forma grega: Teosofia.

Sendo, como é, origem e base de todas as religiões, a Teosofia não se opõe a nenhuma delas. Ao contrário, purifica-as, revelando a alta significação interior de inúmeras doutrinas, tornadas errôneas em sua forma excêntrica, pervertidas pela ignorância e pela superstição. Em cada uma destas formas, a Teosofia se reconhece e se defende; e procura em cada uma delas revelar sua sabedoria oculta. Para nos tornarmos um teósofo não há necessidade de deixarmos de ser ou cristão, ou budista, ou hinduísta. Basta que o homem penetre mais profundamente no coração de sua própria fé, abraçando mais firmemente as verdades espirituais e analisando com um espírito mais amplo os ensinamentos sagrados. Depois de ter outrora dado nascimento às religiões, a Teosofia vem hoje justificá-las e defendê-las. É o bloco no qual todas têm sido talhadas, é como a escavação profunda da pedreira donde todas foram extraídas. Diante do tribunal da crítica moderna, ela vem justificar as mais profundas aspirações e as mais nobres emoções do coração humano. Confirma as esperanças, que apontamos ao homem, e nos restitui, mais enobrecida, nossa fé em Deus.

A verdade desta asserção torna-se cada vez mais evidente à medida que estudamos as diversas Escrituras Sagradas do mundo. Algumas seleções operadas na massa dos materiais disponíveis bastam para verificar o fato e guiar o estudante na investigação de novas provas.

As verdades espirituais fundamentais da religião podem resumir-se no seguinte:

I. Uma existência real, eterna, infinita, incognoscível;
II. Do Todo procede o Deus manifestado, desdobrando-se de unidade em dualidade, de dualidade em trindade;
III. Da Trindade manifestada procedem inumeráveis inteligências espirituais, guias da atividade cósmica;
IV. O Homem, reflexo do Deus manifestado, se compõe, por isto, duma trindade fundamental. Seu "eu" interior e real é eterno, e forma uma unidade com o "eu" universal;
V. Ele evolui por encarnações repetidas (c) para as quais é atraído pelo desejo; e das quais se liberta pelo conhecimento e pelo sacrifício, tornando-se finalmente divino em realidade como fora sempre em potencialidade.

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Minhas Notas:

(a) É interessante observar a consonância desse pensamento com os seguintes textos extraídos do Bhagavad~Gîtâ:
Capítulo II - 47
Capítulo II - 49 a 51

(b) abstruso: obscuro, intrincado, oculto.

(c) A autora detalhará a afirmação na sequência desta introdução.


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