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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Bhagavad ~ Gîtâ - Capítulo XIV - Guna-Traya-Vibihãga Yoga

Guna-Traya-Vibihãga Yoga - As três gunas ou qualidades da matéria

(a) Tudo o que tem lugar na Matéria e na Consciência é consequente de três qualidades, as quais são o motivo de todos os atos materiais de sentir, querer, pensar e agir. Estas três qualidades, forças ou "gunas" chamam-se, em termos sânscritos: "Sattwa", "Rajas" e "Tamas"

"Sattwa" designa Equilíbrio, Ritmo, Harmonia; "Rajas", Atividade, Movimento, Emoção, Ambição; "Tamas", Estabilidade, Resistência, Inércia, Obscuridade.

A Divindade é superior à Matéria, com as suas qualidades. A Divindade em si mesma, nem é "boa" nem "má", porque estas palavras exprime idéias relativas, e são aplicáveis só ao que é manifestado. Quem se torna superior a estes três atributos naturais, unindo-se à sua Essência Divina e realizando a Consciência do seu Eu Divino, alcança a Libertação.


1. Continua Krishna (b):
"Presta atenção, ó Arjuna (c)! quero dar-te ainda mais esclarecimentos e ensinar-te mais verdades da Suprema Sabedoria. Esta Sabedoria é o melhor que se pode possuir; os sábios e santos que a possuíram chegaram às alturas da Suprema Perfeição.

2. Tendo alcançado o Supremo Conhecimento, vieram unir-se comigo, entrando em meu Ser. Eles não renascerão, nem quando um novo universo for criado, e a dissolução do universo não os tocará.

3. Este Universo de matéria é a minha matriz, em que ponho o germe de que provém todos os seres.

4. Quaisquer que sejam as matrizes de que nascem os seres, este Universo é a sua matriz, e Eu, o Pai inoculador.

5. A matéria tem três qualidades, princípios ou gunas, que se chamam: Sattwa ou Harmonia, Rajas ou Movimento, e Tamas ou Inércia. Estes três atributos vinculam a alma ao corpo ou o Espírito à Matéria.

6. Os seus vínculos são diferentes, mas todos são vínculos. Sattwa, a Harmonia, sendo pura e imaculada, vincula a alma pelo amor ao conhecimento e à harmonia. Quem está em seu poder, renasce por causa dos vínculos que o prendem ao saber e à beleza.

7. Rajas, a Emoção, é a natureza passional. o desejo que vincula a alma, incitando-a ao renascimento pelo apego à ação.

8. Tamas, a inércia, vincula a alma pelos laços da negligência, apatia e preguiça.

9. Sattwa (Harmonia) prende à felicidade; Rajas (Emoção) ata à ação; mas Tamas (Inércia), obscurecendo a reta percepção, encadeia os mortais à indolência.

10. Quando o homem venceu Tamas e Rajas, reina nele Sattwa só. Quando desapareceu Rajas e Sattwa, domina o Tamas. E quando desapareceu Tamas e Sattwa, governa Rajas.

11. Vendo a Sabedoria manifestada em alguém, sabe que Sattwa é a guna que o domina.

12. Onde se vê avidez, obstinação, muita atividade, agitação e desejo, ali Rajas exerce o seu poder.

13. Quando aparece estupidez, preguiça, vaidade e falta de idéias, Tamas está no trono.

14. Se na hora de sua morte prevale a Harmonia, o homem vai, para os imaculados mundos dos grandes Sábios.

15. Mas se predomina a Emoção, renasce o home, entre os inclinados à ação. E se na Inércia desaparece, volta a nascer entre os ignorantes.

16. O fruto de uma boa ação é puro e harmônico; o fruto da Emoção é em verdade, dor, mas o da Inércia é ignorância.

17. Da Harmonia procede o conhecimento; da Emoção, o desejo, e da Inércia, o erro, a ignorância, a preguiça.

18. Os que estão situados na Harmonia, ascendem ao alto; os ativos moram na região intermediária, e os inertes se fundam nas mais vis qualidades.

19. Quando o Vidente se apercebe de que as qualidades são o único agente, e reconhece AQUELE que se sobrepõe às qualidades, então participa de Minha natureza.

20. Quando a alma encarnada ultrapassar essas três qualidades que aparecem com a formação de um corpo, e quando se tornou consciente do que existe além delas, libertou-a dos vínculos das gunas e, por conseguinte, também dos vínculos do nascimento e da morte, da velhice e do sofrimento, e bebe o néctar da Imortalidade."

21. Pergunta Arjuna:
"E como se pode conhecer, ó Senhor! aquele que alcançou essa vitória? Como vive e como vence essas três qualidades?"

22. Responde Krishna:

"
Diz-se que ultrapassou as qualidades quem, sentindo o efeito que as qualidades produzem - percepção, ação ou ilusão - não lhes repugnam os maus frutos advindos, nem anseia pelos bons frutos frustrados.

23. Aquele que, como neutro espectador, não é comovido pelas qualidades, mas, imperturbável, se retrai delas com o pensamento: 'as qualidades desempenham sua tarefa'.

24. Aquele que, equânime no prazer e na dor, fixa-se no Eu, olhando indiferente a argila, a pedra e o ouro; que, firme no louvor e no vitupério, recebe com a mesma afabilidade as coisas agradáveis e desagradáveis.

25. Aquele que, com igual indiferença aceita as honrarias e os vitupérios; que por igual olha os amigos e os inimigos, e desprendido de todos os compromissos.

26. Aquele que se consagra exclusivamente a Mim pela Yoga da devoção: esse supera tais qualidades e unifica-se com o ETERNO.

27. Pois Eu sou a causa principal de se tornar alguém ETERNO, imortal e imperecível; da conquista do sempre inesgotável poder e da bem-aventurança obtida com sincera e pura devoção."

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Minhas notas:
(a) esse texto, como a quase totalidade do Bhagavad Gîtâ, faz parte do discurso filosófico de Krishna, o Deus encarnado, a Arjuna, o homem em desenvolvimento. O Bhagavad Gîtâ é texto fundamental na religião e filosofia hindus. Para saber mais sobre o Bhagavad Gîtâ, clique aqui.

(b) Arjuna: personagem central do Bhagavad Gîtâ. Representa o homem em desenvolvimento.

(c) Krishna: o Deus encarnado. No Bhagavad Gîtâ, está no carro de batalha, ao lado de Arjuna.

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