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domingo, 25 de maio de 2014

A Sabedoria Antiga - Introdução - Parte 08 - Zoroastrismo

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Na religião de Zoroastro (a) encontramos a concepção da Existência Una, figurada pelo Espaço Ilimitado, donde surgiu o Logos, Ahura-Mazda (b), o criador.

"Supremo em onisciência e em bondade, sem rival seu esplendor, a região da luz é a morada de Ahura-Mazda." (The Bundahis, Sacred Books of the East, v, 3, 4; v, 2) (c)

É a Ele, no Yasna (d), a liturgia principal do Zoroastrismo, que se homenageia em primeiro lugar.

"Anuncio que realizarei minha adoração (Yasna) a Ahura-Mazda, o Criador, o radiante, o glorioso, o maior e melhor, o mais belo (em nossa opinião, o mais firme, o mais sábio, e o único de todos cujo corpo é perfeito, que atinge seus fins o mais infalivelmente, por graça de sua reta ordem, a Ele que retifica nossas mentes, que expande sua graça geradora de alegria, que nos fez e nos tem moldado, que nos tem nutrido e preservado, que é o Espírito mais benfazejo." (Sacred Books of the East,XXXI, pp. 195, 196)

O fiel rende em seguida homenagem aos Ahmeshapends (e) e aos outros deuses, mas o Deus supremo manifestado, o Logos, não é aqui representado como Unotrino.

Tal como entre os hebreus, houve no culto exotérico uma tendência para perder-se de vista esta verdade fundamental. Felizmente, foi-nos possível encontrar o traço do ensinamento original, embora tenha mais tarde desaparecido das crenças populares. O Dr. Haug (f), em seus Ensaios sobre os Parsis (traduzido em inglês pelo Dr. West, e constituindo o volume V dos Trübner's Oriental Series (g)), diz que Ahura-Mazda (ou Hormazd)(h) é o Ser Supremo, que d'Ele nasceram: "duas causas primordiais que, embora diferentes, estavam unidas, produzindo o mundo das coisas materiais, como também o mundo do espírito". (pág. 303)

Estes dois princípios foram chamados gêmeos e estão presentes em todas as coisas, em Ahura-Mazda como no homem. Um gera o Real e o outro o Não-Real; e são estes dois aspectos que no zoroastrismo posterior tornaram-se os dois gênios antagônicos do bem e do mal. No ensinamento primitivo formavam certamente o Segundo Logos, cujo sinal característico é a dualidade.

O "bem" e o "mal" são simplesmente a Luz e as Trevas, o Espírito e a Matéria, os gêmeos essenciais do Universo, os dois procedendo do Uno.

Criticando a idéia posterior dos dois gênios, o Dr. Haug diz:

"Tal é a noção zoroastrina dos Espíritos criadores, que formam somente duas partes do Ser Divino. Mas ulteriormente, em consequência dos erros e falsas interpretações, esta doutrina do grande fundador foi modificada e corrompida. Spentomainyush (espírito bom) foi considerado como um dos nomes do próprio Ahura-Mazda e pela mesma razão Angromanizuhs (espírito mau) foi considerado como seu perpétuo adversário. Assim nasceu o dualismo de Deus e o Diabo." (pág. 205)

A opinião do Dr. Haug parece ser mantida pela Gatha Ahunavaiti (i), dado com outros Gathas (j) pelos "arcanjos" a Zoroastro ou Zarathustra (k):

"No princípio um par de gêmeos, dois espíritos, cada um de uma atividade particular, isto é, o bom e o mau... E esses dois espíritos unidos criaram a coisa primeira (as coias materiais); um é a realidade, o outro a não-realidade... E para fortalecer esta vida Armaíti (l) vem com suas riquezas, a Inteligência boa e verdadeira. Ela, a eterna, cria o mundo material... Todas as coisas perfeitas, conhecidas como os melhores seres, são acolhidas, na morada esplêndida da Boa Inteligência, a Sábia e Justa." (Yast, XXX, 3, 4, 7, 10; tradução do Dr. Haut, pág. 149-151)(m)

Aqui se encontram três logos: Ahura-Mazda, o Primeiro, a Vida Suprema; n'Ele e d'Ele, os "gêmeos"; o segundo Logos; depois Armaíti, a Inteligência, o Criador do Universo; o Terceiro Logos (1). Mais tarde aparece Mitra (n) que veio obscurecer até certo ponto, na religião exotérica, a verdade primitiva. É dele que foi dito:

"Ahura-Mazda criou-o para conservar e dirigir todo o Universo movente. Jamais dormindo, sempre vigilante, ele guarda a criação de Mazda." (Mihir Yast, XXXVII, 103; Sacred Books of the East, XVIII)

Mitra era um deus subordinado, a luz do céu, como Varuna (o) era o mesmo Céu, uma das grandes inteligências dirigentes. Os mais eminentes entre estas inteligências eram os seis Ahmeshaspends, liderados por Yohuman (p), o Bom Pensamento de Ahura-Mazda. São elas "que administram toda a criação material". (Sacred Books of the East, pág. 10, nota)

A reencarnação não parece ter sido ensinada nas obras que se têm traduzido até agora, e a crença não se encontra entre os Pársis (q) modernos. Mas encontramos neles a idéia de que o Espírito, no homem, é uma centelha cujo destino é tornar-se um dia chama a reunir-se ao Fogo Supremo. E como isto exige um contínuo desenvolvimento, claro é que os renascimentos são indispensáveis. De resto, o zoroastrismo permanecerá incompreendido enquanto não forem descobertos os Oráculos Caldeus (r) e outros escritos a eles ligados, porque foi daí que tirou sua origem.
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Minhas notas:

(a) Zoroastro: Zoroastro ou Zarathustra. Fundador do Zoroastrismo ou Mazdeísmo.
(b) Ahura-Mazda: nome da Divindade no Zoroastrismo, o Criador Incriado. Ahura Mazda significa "Deus Sábio".
(c) Sacred Books of the East: coleção de textos religiosos asiáticos traduzidos para o inglês, contendo escrituras hinduístas, budistas, taoistas e mazdeístas, entre outras. São 50 volumes que foram convertidos em e-books disponíveis na internet (Holybooks.com) e acessíveis também no site: http://www.sacred-texts.com/sbe/
(d) Yasna: coleção de livros sagrados do Avesta (s), que, por si, constitui escritura sagrada do Zoroastrismo.
(e) Ahmeshapends ou Amesha-Spenta: nome de origem Avesta, que significa "Imortal bondoso", mas que, mais especificamente, é dado a cada uma das seis emanações de Ahura-Mazda, das quais todo o restante da criação se origina.
(f) Martin Haug (1827-1876), doutor em filosofia, professor e linguista alemão. Durante parte de sua vida residiu na Índia, obde estudou os costumes dos Parsis (p), publicando, em 1862 o seu "Essays on the Sacred Language, Writings and Religion of the Parsis", um dos mais ricos estudos disponíveis sobre a religião de Zoroastro.
(g) Trubner's Oriental Series: estudo sobre idioma, filosofia e religiões orientais.
(h) Hormazd: o mesmo que Ahura-Mazda.
(i) Gatha Ahunavaiti: textos que correspondem aos capítulos 28 a 34 do Yasna.
(j) Gathas: coleção de cinco hinos que constituem a parte mais antiga do Avesta e que seriam a principal fonte conhecida do ensinamento de Zoroastro. Datam do segundo milênio AC.
(k) Zarathustra: ver (a).
(l) Armaíti: Divindade do Zoroastrismo.
(m) Yast e Mihir Yast: Yast ou Yasht é uma coleção de 21 hinos do Avesta, cada um dedicado a uma divindade. O Mihir Yast ou Mihr Yasht é um hino dedicado à divindade Mithra (ou Mitra).
(n) Mitra (ou Mithra): divindade do zoroastrismo responsável, pelas alianças, juramentos e julgamentos.
(o) Varuna: Divindade do Zoroastrismo.
(p) Yohuman: Divindade ou Arcanjo, no zoroastrismo, mais próximo de Ahura-Mazda.
(q) Parsis: comunidade indiana, descendente de persas de religião zoroastriana e que conservam essa religião até a atualidade.
(r) Oráculos Caldeus: textos provenientes da caldéia (antiga babilônia) que teriam sido influenciados pelo zoroastrismo e que tratavam de seres espirituais e da maneira de estabelecer comunicação com eles. Somente fragmentos desses textos foram descobertos.
(s) Avesta ou Zen-Avesta: escrituras sagradas nas quais se baseia o mazdeísmo. Grande parte do Avesta original foi destruída por ocasião da invasão de Alexandre Magno, na Pérsia.

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Notas da Editora

(1) Armaíti era primitivamente a Sabedoria. Mais tarde, como Criador, foi ela identificada com a Terra e adorada como a Deusa da Terra.


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