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O budismo, tal como existe em sua forma setentrional, está em perfeito acordo com as mais antigas religiões; mas em sua forma meridional parece ter deixado escapar a idéia da Trindade Lógica (a), como da Existência Única, donde esta Trindade procede. O Logos em sua tríplice manifestação é designado como se segue; Amitaba, o Primeiro logos, a Luz sem limites; Avalokiteshvara ou Padmapani, o Segundo; Mandousri, o Terceiro - representando a Sabedoria criadora, e correspondendo a Brama (b).
O budismo chinês aparentemente não contém a idéia de uma Existência primordial, além do Logos; mas o budismo do Nepal tem Adi-Budha (c), de quem Amitaba procede. Eitel (d) considera Padmapani como representando a Providência, e corresponde em parte a Shiva. Mas ele é o aspecto da Trindade budista que produz as encarnações e parece antes representar a mesma idéia que Vishnu. Vishnu, ao qual está estreitamente unido pelos Lotos que traz na mão (e) (o Lotos, o fogo e a água, ou o espírito e a matéria, como elementos primordiais do Universo).
Quanto à reencarnação e ao Karma (f), são doutrinas no budismo de tal modo fundamentais, que se torna quase inútil insistir nisto, a não ser para assinalar o caminho da libertação e para observar que o Senhor Buda, hindu falando a hindus, considera sempre em seus ensinamentos as doutrinas bramânicas como conhecidas e admitidas por seus ouvintes.
Ele foi um purificador e um reformador, e não um iconoclasta; Ele procurou vencer os erros introduzidos pela ignorância, e não as verdades fundamentais que pertencem à Sabedoria Antiga.
"Os seres que seguem o caminho da Lei, que tem sido tão bem ensinada, atingem a outra margem do grande mar dos nascimentos e das mortes, tão difícil de transpor." (Udanavarga, XXXIX, 37)
É o desejo que prende o homem, e ele deve desembaraçar-se dele:
"para aquele que ainda está preso pelas correntes do desejo, é duro libertar-se, diz o Bem-Aventurado. Os homens constantes, que não se preocupam com a felicidade que os desejos dão, rejeitam seus laços e em breve atingem o Nirvana... A humanidade não tem desejos duráveis: os desejos são transitórios para aqueles que os experimentam. Libertai-vos, portanto, daquilo que não pode durar e não vos retardeis na morada da morte." (Ibid, ii, 6, 8)
"Aquele que aniquilou o desejo dos bens terrestres, o estado de pecado, os laços do olho e da carne, que conseguiu arrancar pelas raízes o desejo, este, eu o declaro, é um brâmane." (Ibid, XXXIII, 68)
E o "brâmane" é o homem que "tendo perdido seu último corpo" é definido como sendo aquele;
"... que, conhecendo suas moradas (existências) anteriores, percebe o céu e o inferno; o Muni (g), aquele que encontrou um meio de por fim aos nascimentos." (Ibid, XXXIII, 5)
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Minhas notas:
(a) "Trindade Lógica" aqui, não tem o sentido de "trindade racional", mas, antes, de "Trindade do Logos", ou seja, dos três aspectos do Logos;
(b) Há diferentes vertentes do budismo, incluindo concepções teístas e ateístas do universo. A autora, aqui, se refere aos três principais Budas, que corresponderiam à Trindade do Logos, na vertente teísta;
(c) No budismo Vajrayãna, corrente budista originária da Índia e que depois alcançou a China, o Tibete e o Japão, Adi-Buddha corresponde a uma Entidade auto-imanente, algo como o Criador Incriado, ou o Logos primordial de qual todos os outros Logos procedem. É, assim, a vertente budista que mais se aproxima do monoteísmo, incluindo a idéia da Trindade;
(d) Eitel: Ernst Johan Eitel. Missionário Luterano que viveu na China e escreveu entre outros títulos de importância sobre a cultura e religião chinesas, o "Handbook of Chinese Budhism" e o "Budhism, Its Historical, Theoretical and Popular Aspects. In Trhee Lectures."
(e) Padmapani, ou Avalokiteshvara, a divindade budista que representa a criação e a compaixão é representado em esculturas e pinturas, portando uma flor de lotus na sua mão esquerda. A Flor de Lótus é uma simbologia para pureza e elevação espirituais.
(f) A respeito da teoria do Karma, você pode encontrar mais informações neste blogue, clicando AQUI;
(g) Udanavarga: um dos mais antigos textos budistas, cuja autoria seria atribuída ao próprio Buda e a seus discípulos;
(h) Muni: termo sânscrito, significando "silencioso", "sábio", "asceta".
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